quarta-feira, 9 de julho de 2014

PÓS-NEOLIBERALISMO: FIM DO CAPITALISMO (?)

Karl Marx acreditava que o capitalismo não subsistiria enquanto classe sociopolítica por trazer, em si, como uma espécie de paradoxo essencial; como uma espécie de contradição interna; como uma espécie de unidade de contrários, a capacidade de, ao mesmo tempo, se desenvolver e desagregar membros sob a forma da produção da exclusão social; sob a forma da concentração de riquezas, cada vez mais, nas mãos de poucos e, portanto, enquanto “sociedade política”, nesse sentido, naturalmente seria incorporada pela “sociedade civil”, ou seja, desapareceria. 

Marx, dentro dessa perspectiva, não somente previu o fim do capitalismo, mas também idealizou o surgimento natural das sociedades socialistas, que, em contrapartida, a corrente não socialista afirma ser completamente utópica, ou seja, um ideal nunca, de fato, capaz de ser atingido na prática. 

Com base nos preceitos de Marx, as sociedades do século XX viram surgir, em diferentes continentes, como tentativas de se construir uma alternativa social frente ao capitalismo, diferentes formas de sociedades ditas comunistas e/ou socialistas, como a das chamadas repúblicas socialistas soviéticas (já decaídas no final do século XX), a da China, a de Cuba e também muitas outras. 

Muitas dessas sociedades, todavia, receberam e, ainda hoje, recebem críticas substancias em relação não somente às suas reais viabilidades enquanto sociedades Socialistas, mas, também, quanto às suas fidedignidades aos ditos ideais de “sociedade perfeita” preconizados por Marx. 

Essas críticas não são somente feitas por parte dos representantes das alas Capitalistas, mas, também, ainda que em minoria inexpressiva, por parte dos que se dizem Marxistas, Neomarxistas e/ou Marxistas ortodoxos. 

A questão, nesse sentido, que por hora aqui se levanta, é: Se, como preconizou Marx, o capitalismo naturalmente desapareceria e daria lugar ao socialismo, não teriam essas ditas sociedades socialistas e/ou comunistas, erigidas no séc. XX, nas suas grandes maiorias, fracassado nesse ideal por terem sido justamente erigidas precocemente, antes do tempo, ou seja, terem sido erigidas antes das etapas previstas por Karl Marx para o suposto fim do capitalismo? E mais: estaria Marx certo quanto a essa questão sobre o fim do capitalismo? 

Pensa-se que, ao caminharmos em direção a resolução da segunda questão, a mais essencial, consequentemente estaremos também construindo meios plausíveis para a “problematização” da primeira, ainda que esse não seja, aqui, propriamente o nosso real e maior objetivo. Ainda assim, vamos a ela... 

Gramsci, com toda a sua magnitude intelectual, nos faz ver o problema sobre o dito suposto “fim do capitalismo”, preconizado de forma brilhante e epistemologicamente fundamentado por Karl Marx, através de outro ângulo; por outra via; por outro sentido. 

Gramsci simplesmente inverte o “conceito de Sociedade civil” preconizado por Marx e, justamente ao inverter essa compreensão sobre o conceito de “sociedade civil”, diferentemente de Karl Marx, fala-nos sobre o poder que a “sociedade política” tem, mesmo sendo quantitativamente inferior em relação à “sociedade civil”, de, através do controle e domínio da superestrutura (valores, cultura, etc.), transformar e solidificar os seus valores essenciais em conteúdos éticos de Estado, ou seja, torná-los e/ou transformá-los numa espécie de corolário de toda a sociedade. 

Nas sociedades do século XXI, principalmente no Brasil e na América Latina, tem ganhado força as teorias Pós-neoliberais um tanto quanto românticas, ou seja, que, entre outras coisas, preconizam que, após as sucessivas crises do capitalismo, em especial àquelas ocorridas na Europa no início do século XXI, as sociedades estão caminhando finalmente rumo à sistematização da equidade social, em escala planetária, pautadas na ideia também de que o fim do capitalismo está próximo, ou seja, reavivando os grandes ideais Marxistas de sociedade. 

Em países como o Brasil, por exemplo, como também em outros da América Latina, as seguida eleições e reeleições, alcançadas democraticamente, através do voto popular, por presidentes progressistas, ditos de esquerda e, consequentemente, o avanço de políticas publicas significativas nessa direção, como a questão das cotas, por exemplo, ou seja, reservas legais de vagas, em universidades públicas, para etnias historicamente excluídas e para as de pessoas oriundas de diferentes grupos sociais excluídos, já é uma realidade jurídica nessas sociedades. 

Todavia, essa não é a única vertente sobre o sentido do Pós-neoliberalismo. Existe também aquela que, embora muitos a queiram chamar de pessimista, ela é, na verdade, realista, ou seja, não tão romântica e erigi-se justamente com base nos preceitos de Gramsci, apontadas também por Norberto Bobbio, no seu livro “o conceito de sociedade civil” (1995). 

Nesse sentido, com base nos conceitos de “inversão do conceito de sociedade civil” em Gramsci, pode-se dizer, ao contrário da versão romântica sobre o Pós-neoliberalismo, já descritas acima, que, ele, o Pós-neoliberalismo, entre outras coisas, na realidade, ainda que muitos não consigam e/ou mesmo não queiram ver, está sintetizado no axioma de que: “Os valores do capitalismo estão sistematizados nas sociedades ocidentais pós-modernas, instituídos estes como os seus conteúdos éticos de Estado, de tal modo que os ditos cidadãos, dessas mesmas sociedades, têm internalizado esses mesmos valores em suas psiques, como se os mesmos fossem de fato seus”. 

Isto é, em outras palavras, estando os indivíduos dessas sociedades, com esses valores do capital conformados, mas agindo como se deles estivessem, de fato, livres: agindo, inconscientemente, em prol deles, conformadamente , crendo-se estarem, todavia, hiper-conscientes. 

Nesse sentido, o Pós-neoliberalismo se traduz, também, como uma inversão de valores. Por exemplo: 

1- O cidadão se transforma em consumidor; 
2- O sucesso pessoal vira sinônimo de competência, inteligência e qualidade extrema; 
3- A exclusão social se transforma em sinônimo de incompetência; 
4- A Inclusão social, por outro lado, se torna sinônima do aumento do poder de consumo que, por sua vez, se confunde com o sentido de prosperidade ou riqueza. 

Nas questões políticas, o Pós-neoliberalismo segue o mesmo caráter trágico dessa inversão de valores: 

1- Políticas públicas se transformam em sinônimo de caridade; 2- O Estado, ao invés de criar políticas públicas, cria estruturas para o desenvolvimento do capital e das políticas de consumo; 3- Os ditos três poderes viram sinônimos de fantoches dos valores do mercado, ao aprovarem e fazerem cumprir leis que mantenham e sistematizem esse “status quo”; 
4- As sociedades capitalistas se unificam em escala global, unificando mercados, castrando qualquer princípio de respeito à diversidade, “Planetarizando” e/ou Globalizando os processos de exclusão. 

Nesse sentido, diante dessa catástrofe social e humana, alternativas sociais, em tempos de exclusão e desencanto, urgem. Todavia, uma possível renovação social pela renovação do entendimento, soa-nos como mais um daqueles ideais que, quase todos, dizem-nos ser completamente utópicos e inviáveis na prática. 

Isso pelo fato de que, a Escola, de onde deveria nascer essa renovação do entendimento, está impregnada, como todas as outras instituições ideológicas do Estado, pelos valores do capital, especialmente por àqueles Individualistas e Meritocráticos, sob as bases do Neotecnicismo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário