quarta-feira, 28 de março de 2018

FILOSOFIA DA LOUCURA - ATSOC EDITIONS - LIVRARIA

FILOSOFIA DA LOUCURA - ATSOC EDITIONS - LIVRARIA: FILOSOFIA DA LOUCURA PSICOSE, NEUROSE E PERVERSÃO – Visão crítica a partir das filosofias antropológica e existencial-humanista Autor: CLEBERSON EDUARDO DA COSTA Sinopse: I Quando se fala do homem em termos da formação estrutural da sua pe...

sexta-feira, 23 de março de 2018

O QUE É NECESSÁRIO PARA SER UM FILÓSOFO?



D
e tempos em tempos, no meio acadêmico ou fora dele, nas situações cotidianas mais corriqueiras ou inusitadas, muitas vezes também na sala de aula, tenho ouvido a seguinte pergunta:
1 - O que é necessário para alguém considerar-se ou ser considerado um filósofo?
Em outras palavras:
2 - Qualquer pessoa, independentemente se possui estudos e/ou formação adequada, pode ser considerada um filósofo?

Na visão do senso comum, diz-se, por exemplo, embora não seja do consenso de todos, que:
1 - Qualquer pessoa pode ser um filósofo, conquanto que possua suas faculdades intelectuais plenamente em funcionamento, pois se a racionalidade é a primeira exigência para que alguém se torne filósofo, e se todos os homens possuem racionalidade, logo todo ser humano pode tornar-se filósofo.
No que se refere à questão sobre se há a necessidade de uma formação em filosofia para ser considerado e/ou considerar-se filósofo, diz ainda o senso comum que:
2 - Não é necessário possuir um conhecimento formal em filosofia, nem construir um sistema, nem tampouco ter o aval da instituição que confere o título de  filósofo. Isto é:
3 - Que, tal qual um dia defendeu  Aristóteles, a filosofia nasce de um sentimento, não de uma formação acadêmica ou de um título conferido por homens.
Por esta via, segundo os defensores desse discurso, o sentimento necessário para nascer o filósofo em nós é o espanto: o espanto diante da realidade, o qual nos deve impulsionar a indagarmos.


Os argumentos acima, estruturados sob silogismos, envolvem-nos em princípios lógicos que, como talvez desconheçam muitos, tentam-nos convencer do seu status de veracidade e/ou de verdade. Entretanto, em oposição férrea aos defensores de tais disparates, afirma-se e reitera-se: lógica nem sempre é sinônimo de verdade; lógica nem sempre é sinônimo de veracidade.
A fim de elucidar o que se diz, tomemos um simples exemplo de argumentos lógicos, mas que são falsos dentro do quesito veracidade e/ou verdade, a saber:

1- O senso comum diz que o amor é cego; 
2 - O senso comum também diz que Deus é amor. 
Logo, por uma ordem lógica, poderíamos absurdamente concluir:
3 - Que, todos os cegos, além de trazerem o amor em si, são deuses.

Ou seja, como defendera Aristóteles, o argumento lógico só traz um teor de veracidade ou de verdade (só pode ser válido) quando existe nele uma adequada correspondência do pensamento a coisa real. Esclarecidos esses pontos, vamos agora então à questão sobre "O que é preciso para alguém poder ser e/ou ser chamado de filósofo?". 
O simples fato de ser-se homo sapiens e estar em plenas faculdades mentais não dá a ninguém as condições para ser um filósofo.
Os homens, diferentemente de todos os outros seres, não nasceram pré-determinados para nada, muito menos para o exercício pleno da razão.  O homem nasceu, diferentemente de todos os outros seres, com um "que-fazer" humano, ou seja, com uma abertura para “ser” ou “não ser”: alguns homens se educam (não se confunda o educar-se com o meramente socializar-se ou adquirir cultura), se humanizam (no sentido de se emancipar intelectualmente), e outros se animalizam, no sentido pejorativo e minimizado da palavra.  
Em outras palavras, nascer homem, homo sapiens, não dá a esse ser o status de humanização. Leia-se Kant, em sua obra “Sobre Pedagogia”, que diz:
"Os homens precisam de cuidados e de formação"; "o homem é aquilo que a educação dele faz".
Isto é, filósofos não nascem filósofos simplesmente porque – enquanto seres humanos –pertencem à espécie homo sapiens e/ou gozam de boas faculdades mentais. Se ainda resta alguma dúvida, atente-se para a teoria Aristotélica sobre o ATO e a POTÊNCIA.
O Ato é aquilo que se é; e a Potência é aquilo que se traz em si, mas que ainda não se é, que no Ser ainda não se realizou. Para a passagem do Ato para a Potência é preciso a intervenção de um Agente Transformador, ou seja, para Aristóteles, o homem é um ser social e um animal político. Nesse sentido, filósofo não é aquele que cria ou constrói algo do nada: o único ser que faz isso, seja lá quem ele for, acredite quem quiser, é Deus. Isto é, sem fundamentos, fundamentações, ainda que em grupo, ainda que de maneira dialógica e coletiva, não se filosofa, não se constrói conhecimentos, mas apenas se socializa a ignorância.
III
Com esse discurso, todavia, não se está dizendo que somente aqueles que passam pelos sistemas acadêmicos é que podem ser chamados de filósofos. Hoje, com o avanço das novas tecnologias da informação, os espaços de aprendizagem se tornaram mais amplos. Ainda assim, o problema permanece: a falta de autonomia intelectual. Autonomia intelectual não é somente ser capaz de raciocinar com argumentos lógicos, mesmo porque, como já dito no início, mas que aqui ainda vale redizer, lógica nem sempre é verdade, lógica nem sempre é veracidade. 
Um homem, pensa-se aqui, para ser filósofo de fato, tenha ele formação acadêmica ou não, precisa ser dotado de inteligência.
Alguns, nessa hora, talvez se perguntem: mas o que é inteligência?
E mais: Todos os homens, simplesmente por pertencerem à espécie humana, por serem homo sapiens, já não são inteligentes? Muito além do sentido vulgar que  tem sido dado ao termo “inteligência”, que a identifica com as meras capacidades de aprendizagem, Nietzsche responde: "A inteligência é a vida que clarifica a própria vida".
Nietzsche diz-nos mais:
"O filósofo é o homem do amanhã; é aquele que cultiva a utopia; é aquele que recusa o ideal do dia”.
Sendo assim, para aqueles que acreditam que qualquer ser humano, simplesmente por pertencer à espécie homo sapiens, é por isso também dotado de inteligência, perguntamos-lhes: 

1- Quantos de nós temos diuturnamente lutado para clarificarmos as nossas próprias vidas? 
2- Quantos de nós temos recusado o ideal do dia? 
3- Quantos de nós temos cultivado a utopia?

Não sejamos ingênuos! Frise-se: o que Aristóteles chamou de Espanto, Heidegger chamou de Angústia e Sartre de Náusea.
Quando Aristóteles disse que do “espanto” faz-se nascer o filósofo, ele não quis dizer que o espanto é o estado de ou do filosofar.
O espanto é apenas a semente. Isto é, todo ser humano, simplesmente por ser jogado no mundo sem saber a razão e nem o porquê, é provocado para o filosofar, mas, somente poucos, a partir daí, filosofam e/ou buscam filosofar de fato.
Após o espanto, o processo é, na maioria das vezes, trágico. Ou seja, depois do “espanto” diante do mundo, embora não saibam muitos, só resta ao Ser três possibilidades:
A) Tentar voltar a ser ele mesmo: fingir que nada lhe ocorreu; querer esquecer o “espanto” ocorrido e voltar à vida dita “normal” o mais depressa possível;
B) Não conseguir superar “o espanto”: não conseguir refazer-se, isto é, enlouquecer, ter o seu eu destruído e/ou dissolvido na massa humana (segundo Heidegger, essas são duas outras possibilidades trágicas que ocorrem com os homens ditos comuns, que não se superam, transcendem e/ou reafirmam as suas identidades);
Ou, num outro viés profícuo, transcender, ou seja:
C) Filosofar, isto é, questionar o porquê do seu espanto, tentando superá-lo, seja com ações pró-ativas, seja emitindo um juízo crítico e avaliativo de valor sobre o mesmo.
Filosofar, nesse sentido, como se pode perceber, é, além de se espantar, ser capaz de transcender, ou seja, de atribuir sentido à vida e/ou ao próprio ser que nela fora jogado sem ter pedido e/ou sem saber a razão e nem por quê.
IV
Dentro desse contexto, as indagações agora seriam outras, e cada qual responda-se se puder, isto é, Já que o espanto, a náusea e/ou a angústia fazem parte da vida de qualquer ser humano, a questão é:

Sem o acesso a uma educação de qualidade, fundamentada (ainda que essa não seja uma regra), quantos de nós logramos, temos logrado ou supostamente lograríamos de fato algum êxito diante deles? (dos espantos, náuseas e/ou angústias da vida).

Em outras palavras:

Diante dos espantos, náuseas e/ou angústias cotidianas, na maioria das vezes, por falta de uma formação, temos quase sempre tentado voltar à vida dita normal, enlouquecido um pouco a cada dia, ou, num outro cenário, que por sinal tem sido o de poucos, de fato transcendido, ou seja, nos transmutado em filósofos?

O que se evidencia é que, hoje, os verdadeiros filósofos são aqueles que, fundamentados, são capazes de avaliar e dizer o contrário, de pensar diferente.
Nenhum filósofo é deficiente mental, mas, quase sempre, em virtude dessa capacidade de transcender, ele é também quase sempre, pelo senso comum, chamado de louco.  Isto é, ser chamado de louco é um dos primeiros espantos, náuseas e/ou angústias que se direcionam a todo aquele que, onde muitos não problematizam, decide filosofar e/ou pensar diferente. Segue-se então a mesma problemática:

1- muitos, diante da incapacidade de superarem seus estados de espantos, náuseas e/ou angústias, desistem de buscar filosofar e voltam a comungar dos mesmos valores e “verdades” do senso comum que regem o bom senso;
2- outros, não suportando à pressão de serem chamados de loucos, de diferentes, tornam-se loucos ou deficientes mentais de fato;
3 – poucos, como Nietzsche, mesmo ao serem chamados de loucos, apenas filosofam, transcendem, e explanam respondendo-lhes: “O que dizem em mim ser loucura chamo-a apenas de saúde interior”.

Ou seja, para ser filósofo, além de nascer-se homo sapiens, é preciso também fazer-se capaz de transcender, de avaliar e de atribuir sentido à própria vida e ao mundo em que se vive, buscando respectivamente transformá-la e transformá-lo sempre que se fizer necessário. Nesse sentido:

Cursos de filosofia formam professores de filosofia, que podem ou não ser filósofos. Assim também, cursos de literatura formam professores de literatura, que podem ou não ser literatos. Finalmente, há filósofos e literatos sem titulação acadêmica. É tão absurdo exigir diplomação específica para alguém ser filósofo quanto seria exigir diplomação específica para alguém ser escritor. A filosofia não é e nem deve tornar-se competência exclusiva de um segmento qualquer, seja ele de natureza estamental, profissional ou ideológico[1].



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[1] (https://www.ufrgs.br/filosofia/blog/2012/01/25/anpof-repudia-projeto-de-lei-que-regulariza-a-profissao-de-filosofo/)

quinta-feira, 1 de março de 2018

Capitalismo, o Homem Totalitário & a Banalidade do Mal

(A5, 153 p.)

I

Os homens de espírito totalitário (totalitário-econômico), ainda que diretamente sem governos com esse nome, muito antes dos ditos totalitarismos do século XX (nazismo, fascismo, etc.), na condição de liberais ou capitalistas selvagens:
1-   Já tinham colonizado, explorado as Américas, exterminado índios, comercializado e escravizado a dita mão de obra negra trazida da África;
2-   Já tinham, por meio do imperialismo e do neocolonialismo, partilhado e explorado vários continentes, como o africano, o asiático etc.;
3-   Já tinham travado grandes guerras entre si, objetivando o acúmulo de capital, a concentração de riquezas e de poder político.

II
Ou seja, a primeira e a segunda guerra mundiais (guerras entre países e/ou nações imperialistas) não ocorreram porque alguns homens (ou nações) tinham tornado-se totalitários (nazistas, fascistas, etc.) da noite para o dia; e sim porque, em sentido macro, os homens de espírito totalitário (totalitário-econômico), que são frutos da Europa antropocêntrica burguesa, atrelada esta aos princípios e valores de ascensão do capitalismo selvagem, independentemente de respectivos governos ou ideologias políticas com esse nome, tomados por nacionalismos, xenofobismos, individualismos, etc., acreditavam-se também, em grande medida:
1-   Mais sábios;
2-   Mais abençoados;
3-   Mais belicamente poderosos, superiores e/ou melhores do que outros povos e/ou nações. Isto é:
4-   Porque eles eram socialmente incapazes, na linguagem crítica de Jurgen Habermas (1929), de praticarem ou exercerem a “ação” e/ou “razão comunicativa” [1] como fundamento e/ou princípio para a realização de suas aspirações ou para a resolução dos seus conflitos e interesses.
III
Hoje, por exemplo, século XXI, por vivermos em uma sociedade globalmente capitalizada, embora não se conheçam governos ou estados completamente totalitários, os valores e princípios do totalitarismo, atrelados aos do capitalismo selvagem, enquanto totalitarismo-econômico, sob a forma de uma espécie de governo invisível global, encontram-se sistematizados e institucionalizados em diferentes continentes e/ou nações – e sob diferentes aspectos, a saber:
1-   Enquanto Indústria cultural e consequente obsolescência programada;
2-   Enquanto máxima exploração (sistema de produção flexível: Toyotismo) e consequente e extrema exclusão socioeconômica da classe proletária do mundo do trabalho;
3-   Enquanto controle dos meios de comunicação de massa, inclusive a internet, por meio de corporações transnacionais ou multinacionais;
4-   Enquanto padronização e/ou ditadura global de modos de ser e de agir (ética); de sentir e de criar (estética); de pensar (cognitiva), de consumir (econômica), etc.
IV
Pode-se inclusive dizer que, hoje, alvorecer do século XXI – também enquanto totalitarismo-econômico – há uma espécie de globalização da Loucura do Espírito[2]:
1-       Pense-se, por exemplo, sobre as reais causas ou motivos da guerra na Síria e tantas outras;
2-       Pense-se sobre o modo como a Europa tratou (e trata) a população civil dessa mesma guerra refugiada (Síria), e que buscou (e busca) auxílio em seus territórios, assim como de tantas outras;
3-       Pensem sobre as possíveis causas dos ataques terroristas que os EUA, a Europa e diversos outros países vêm sofrendo nas últimas décadas, muito antes daquele de “11 de setembro”;
4-       Pensem sobre os valores e princípios fascistas e nazistas defendidos por Donald Trump, e que o levaram à presidência dos EUA;
5-       Pensem sobre a globalização excludente, neoliberal, praticada pelo mundo do capital onde, segundo dados recentes da ONU, mais de 1,5 bilhão de pessoas, na condição de miseráveis, sobrevivem com menos de 1 ou 2 dólares ao dia, em diferentes continentes (africano, asiático, América do sul etc.) ou países, inclusive nos ditos ricos, como os EUA;
6-       Pensem nos casos dos assassinos atiradores, muitas vezes cidadãos dos seus próprios países, que exterminam, sem ditos motivos aparentes, seus compatriotas; e também nos casos de alunos que dizimam colegas de classes, e não somente em escolas americanas: esse fenômeno se vê há tempos noticiado também em vários outros países do mundo, inclusive no Brasil.
V
O livro, ou melhor, a tese, traz-nos uma importante visão sobre a origem do homem totalitário (totalitário-econômico) e da consequente trivialidade ou banalidade do mal, associando-o ao nascimento do próprio capitalismo, atrelado este aos valores do antropocentrismo.
Na mesma via, faz-nos também refletir sobre as diferentes formas de espíritos totalitários, enquanto totalitarismo-econômico (governo invisível global, indústria cultural, obsolescência programada etc.) presentes na contemporaneidade.
O autor



[1] Na obra "Teoria do Agir Comunicativo", Habermas desenvolve uma teoria explicativa da sociedade contemporânea, suas inter-relações sistêmicas e os processos de socialização. Assim, Habermas concebe a razão comunicativa - e a ação comunicativa, ou seja, a comunicação livre, racional e crítica - como alternativa à razão instrumental e superação da razão iluminista - "aprisionada" pela lógica instrumental, que encobre a dominação. Ao pretender a recuperação do conteúdo emancipatório do projeto moderno, no fundo, Habermas está preocupado com o restabelecimento dos vínculos entre socialismo e democracia. Habermas explica que a teoria da ação comunicativa vai além do processo de interpretação em que o conhecimento cultural fica exposto ao teste do mundo. Na verdade, ação comunicativa significa ao mesmo tempo processos de interação social e socialização. É por meio dessa interação social e socialização que as pessoas envolvidas confirmam e renovam suas identidades e seu pertencimento aos grupos sociais.
[2] Tese de doutorado em Filosofia, Teologia e Saúde mental, de autoria do mesmo autor (Cleberson Eduardo da Costa).