(A5, 153 p.)
I
Os homens de espírito totalitário
(totalitário-econômico), ainda que diretamente sem governos com esse nome,
muito antes dos ditos totalitarismos do século XX (nazismo, fascismo, etc.), na
condição de liberais ou capitalistas selvagens:
1-
Já
tinham colonizado, explorado as Américas, exterminado índios, comercializado e
escravizado a dita mão de obra negra trazida da África;
2-
Já
tinham, por meio do imperialismo e do neocolonialismo, partilhado e explorado
vários continentes, como o africano, o asiático etc.;
3-
Já
tinham travado grandes guerras entre si, objetivando o acúmulo de capital, a concentração
de riquezas e de poder político.
II
Ou seja, a primeira e a segunda
guerra mundiais (guerras entre países e/ou nações imperialistas) não ocorreram
porque alguns homens (ou nações) tinham tornado-se totalitários (nazistas, fascistas,
etc.) da noite para o dia; e sim porque, em sentido macro, os homens de
espírito totalitário (totalitário-econômico), que são frutos da Europa antropocêntrica
burguesa, atrelada esta aos princípios e valores de ascensão do capitalismo
selvagem, independentemente de respectivos governos ou ideologias políticas com
esse nome, tomados por nacionalismos, xenofobismos, individualismos, etc., acreditavam-se
também, em grande medida:
1-
Mais
sábios;
2-
Mais abençoados;
3-
Mais belicamente
poderosos, superiores e/ou melhores do que outros povos e/ou nações. Isto é:
4-
Porque eles
eram socialmente incapazes, na linguagem crítica de Jurgen Habermas (1929), de
praticarem ou exercerem a “ação” e/ou “razão comunicativa” [1]
como fundamento e/ou princípio para a realização de suas aspirações ou para a resolução
dos seus conflitos e interesses.
III
Hoje, por exemplo, século XXI, por
vivermos em uma sociedade globalmente capitalizada, embora não se conheçam
governos ou estados completamente totalitários, os valores e princípios do
totalitarismo, atrelados aos do capitalismo selvagem, enquanto totalitarismo-econômico,
sob a forma de uma espécie de governo
invisível global, encontram-se sistematizados e institucionalizados em
diferentes continentes e/ou nações – e sob diferentes aspectos, a saber:
1-
Enquanto
Indústria cultural e consequente obsolescência programada;
2-
Enquanto
máxima exploração (sistema de produção flexível: Toyotismo) e consequente e extrema
exclusão socioeconômica da classe proletária do mundo do trabalho;
3-
Enquanto
controle dos meios de comunicação de massa, inclusive a internet, por meio de corporações
transnacionais ou multinacionais;
4-
Enquanto
padronização e/ou ditadura global de modos de ser e de agir (ética); de sentir
e de criar (estética); de pensar (cognitiva), de consumir (econômica), etc.
IV
Pode-se inclusive dizer que, hoje,
alvorecer do século XXI – também enquanto totalitarismo-econômico – há uma
espécie de globalização da Loucura
do Espírito[2]:
1- Pense-se,
por exemplo, sobre as reais causas ou motivos da guerra na Síria e tantas
outras;
2- Pense-se
sobre o modo como a Europa tratou (e trata) a população civil dessa mesma
guerra refugiada (Síria), e que buscou (e busca) auxílio em seus territórios,
assim como de tantas outras;
3- Pensem
sobre as possíveis causas dos ataques terroristas que os EUA, a Europa e diversos
outros países vêm sofrendo nas últimas décadas, muito antes daquele de “11 de setembro”;
4- Pensem
sobre os valores e princípios fascistas e nazistas defendidos por Donald Trump,
e que o levaram à presidência dos EUA;
5- Pensem
sobre a globalização excludente, neoliberal, praticada pelo mundo do capital
onde, segundo dados recentes da ONU, mais de 1,5 bilhão de pessoas, na condição
de miseráveis, sobrevivem com menos de 1 ou 2 dólares ao dia, em diferentes
continentes (africano, asiático, América do sul etc.) ou países, inclusive nos
ditos ricos, como os EUA;
6- Pensem
nos casos dos assassinos atiradores, muitas vezes cidadãos dos seus próprios
países, que exterminam, sem ditos motivos aparentes, seus compatriotas; e
também nos casos de alunos que dizimam colegas de classes, e não somente em
escolas americanas: esse fenômeno se vê há tempos noticiado também em vários
outros países do mundo, inclusive no Brasil.
V
O livro, ou melhor, a tese, traz-nos
uma importante visão sobre a origem do homem
totalitário (totalitário-econômico) e da consequente trivialidade ou banalidade
do mal, associando-o ao nascimento do próprio capitalismo, atrelado este aos
valores do antropocentrismo.
Na mesma via, faz-nos também refletir
sobre as diferentes formas de espíritos totalitários, enquanto totalitarismo-econômico
(governo invisível global, indústria cultural, obsolescência programada etc.)
presentes na contemporaneidade.
O autor
[1]
Na obra "Teoria do Agir Comunicativo",
Habermas desenvolve uma teoria explicativa da sociedade contemporânea, suas
inter-relações sistêmicas e os processos de socialização. Assim, Habermas
concebe a razão comunicativa - e a ação comunicativa, ou seja, a comunicação
livre, racional e crítica - como alternativa à razão instrumental e superação
da razão iluminista - "aprisionada" pela lógica instrumental, que
encobre a dominação. Ao pretender a recuperação do conteúdo emancipatório do projeto
moderno, no fundo, Habermas está preocupado com o restabelecimento dos vínculos
entre socialismo e democracia. Habermas explica que a teoria da ação
comunicativa vai além do processo de interpretação em que o conhecimento
cultural fica exposto ao teste do mundo. Na verdade, ação comunicativa
significa ao mesmo tempo processos de interação social e socialização. É por
meio dessa interação social e socialização que as pessoas envolvidas confirmam
e renovam suas identidades e seu pertencimento aos grupos sociais.
[2]
Tese de doutorado em Filosofia, Teologia e Saúde mental, de autoria do mesmo
autor (Cleberson Eduardo da Costa).
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