quinta-feira, 1 de março de 2018

Capitalismo, o Homem Totalitário & a Banalidade do Mal

(A5, 153 p.)

I

Os homens de espírito totalitário (totalitário-econômico), ainda que diretamente sem governos com esse nome, muito antes dos ditos totalitarismos do século XX (nazismo, fascismo, etc.), na condição de liberais ou capitalistas selvagens:
1-   Já tinham colonizado, explorado as Américas, exterminado índios, comercializado e escravizado a dita mão de obra negra trazida da África;
2-   Já tinham, por meio do imperialismo e do neocolonialismo, partilhado e explorado vários continentes, como o africano, o asiático etc.;
3-   Já tinham travado grandes guerras entre si, objetivando o acúmulo de capital, a concentração de riquezas e de poder político.

II
Ou seja, a primeira e a segunda guerra mundiais (guerras entre países e/ou nações imperialistas) não ocorreram porque alguns homens (ou nações) tinham tornado-se totalitários (nazistas, fascistas, etc.) da noite para o dia; e sim porque, em sentido macro, os homens de espírito totalitário (totalitário-econômico), que são frutos da Europa antropocêntrica burguesa, atrelada esta aos princípios e valores de ascensão do capitalismo selvagem, independentemente de respectivos governos ou ideologias políticas com esse nome, tomados por nacionalismos, xenofobismos, individualismos, etc., acreditavam-se também, em grande medida:
1-   Mais sábios;
2-   Mais abençoados;
3-   Mais belicamente poderosos, superiores e/ou melhores do que outros povos e/ou nações. Isto é:
4-   Porque eles eram socialmente incapazes, na linguagem crítica de Jurgen Habermas (1929), de praticarem ou exercerem a “ação” e/ou “razão comunicativa” [1] como fundamento e/ou princípio para a realização de suas aspirações ou para a resolução dos seus conflitos e interesses.
III
Hoje, por exemplo, século XXI, por vivermos em uma sociedade globalmente capitalizada, embora não se conheçam governos ou estados completamente totalitários, os valores e princípios do totalitarismo, atrelados aos do capitalismo selvagem, enquanto totalitarismo-econômico, sob a forma de uma espécie de governo invisível global, encontram-se sistematizados e institucionalizados em diferentes continentes e/ou nações – e sob diferentes aspectos, a saber:
1-   Enquanto Indústria cultural e consequente obsolescência programada;
2-   Enquanto máxima exploração (sistema de produção flexível: Toyotismo) e consequente e extrema exclusão socioeconômica da classe proletária do mundo do trabalho;
3-   Enquanto controle dos meios de comunicação de massa, inclusive a internet, por meio de corporações transnacionais ou multinacionais;
4-   Enquanto padronização e/ou ditadura global de modos de ser e de agir (ética); de sentir e de criar (estética); de pensar (cognitiva), de consumir (econômica), etc.
IV
Pode-se inclusive dizer que, hoje, alvorecer do século XXI – também enquanto totalitarismo-econômico – há uma espécie de globalização da Loucura do Espírito[2]:
1-       Pense-se, por exemplo, sobre as reais causas ou motivos da guerra na Síria e tantas outras;
2-       Pense-se sobre o modo como a Europa tratou (e trata) a população civil dessa mesma guerra refugiada (Síria), e que buscou (e busca) auxílio em seus territórios, assim como de tantas outras;
3-       Pensem sobre as possíveis causas dos ataques terroristas que os EUA, a Europa e diversos outros países vêm sofrendo nas últimas décadas, muito antes daquele de “11 de setembro”;
4-       Pensem sobre os valores e princípios fascistas e nazistas defendidos por Donald Trump, e que o levaram à presidência dos EUA;
5-       Pensem sobre a globalização excludente, neoliberal, praticada pelo mundo do capital onde, segundo dados recentes da ONU, mais de 1,5 bilhão de pessoas, na condição de miseráveis, sobrevivem com menos de 1 ou 2 dólares ao dia, em diferentes continentes (africano, asiático, América do sul etc.) ou países, inclusive nos ditos ricos, como os EUA;
6-       Pensem nos casos dos assassinos atiradores, muitas vezes cidadãos dos seus próprios países, que exterminam, sem ditos motivos aparentes, seus compatriotas; e também nos casos de alunos que dizimam colegas de classes, e não somente em escolas americanas: esse fenômeno se vê há tempos noticiado também em vários outros países do mundo, inclusive no Brasil.
V
O livro, ou melhor, a tese, traz-nos uma importante visão sobre a origem do homem totalitário (totalitário-econômico) e da consequente trivialidade ou banalidade do mal, associando-o ao nascimento do próprio capitalismo, atrelado este aos valores do antropocentrismo.
Na mesma via, faz-nos também refletir sobre as diferentes formas de espíritos totalitários, enquanto totalitarismo-econômico (governo invisível global, indústria cultural, obsolescência programada etc.) presentes na contemporaneidade.
O autor



[1] Na obra "Teoria do Agir Comunicativo", Habermas desenvolve uma teoria explicativa da sociedade contemporânea, suas inter-relações sistêmicas e os processos de socialização. Assim, Habermas concebe a razão comunicativa - e a ação comunicativa, ou seja, a comunicação livre, racional e crítica - como alternativa à razão instrumental e superação da razão iluminista - "aprisionada" pela lógica instrumental, que encobre a dominação. Ao pretender a recuperação do conteúdo emancipatório do projeto moderno, no fundo, Habermas está preocupado com o restabelecimento dos vínculos entre socialismo e democracia. Habermas explica que a teoria da ação comunicativa vai além do processo de interpretação em que o conhecimento cultural fica exposto ao teste do mundo. Na verdade, ação comunicativa significa ao mesmo tempo processos de interação social e socialização. É por meio dessa interação social e socialização que as pessoas envolvidas confirmam e renovam suas identidades e seu pertencimento aos grupos sociais.
[2] Tese de doutorado em Filosofia, Teologia e Saúde mental, de autoria do mesmo autor (Cleberson Eduardo da Costa).

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