I
Quase
todo ser humano, ao atingir a sua chamada idade da razão, no encontro da vida
social com outros homens e/ou mesmo simplesmente por ter sido lançado no mundo
sem ter pedido e/ou sem saber a razão e nem o porquê, num determinado momento
de sua existência (em alguns casos mais cedo, em outros mais tarde) tende a se
fazer questionamentos relativos a “De
onde vim? Onde estou? Para onde vou?” que, inexoravelmente, o levará a
passar por:
1-
Náuseas;
2-
Angústias;
3-
Caos existencial.
Ou
seja, tenderá a passar por problemas existenciais, onde todos ou quase todos os
seus valores essenciais serão postos em xeque, sendo passíveis de mudanças ou
quebras, a marteladas, no sentido de Nietzsche. Isto é, depois das náuseas e
angústias vivenciadas, imerso num estado de caos, tido este como consequência
dessas suas inserções na vida social; tido este como consequência desse
confronto direto com os diferentes homens e, ao mesmo tempo, com um mundo
hostil que se lhe apresenta, tendo sobre si, na grande maioria das veze, perdas
sócio-afetivas, perdas financeiras, quebra das relações de confiança, passando-se,
muitas vezes, também, por doenças, mortes de entes queridos, etc., só resta ao
ser, a esse ser lançado inesperadamente nesse mundo, três possibilidades:
1-
Voltar, depois desse estado de caos, a ser
ele mesmo, continuando-se a ser o mesmo eu, sem realizar mudanças essenciais em
si;
2-
Tornar-se patológico, passando a ser
considerado, por muitos, como alguém que, devido a grandes problemas
existenciais, ficou louco. Isto é, não conseguiu reorganizar-se mentalmente
e/ou voltar a si;
3-
Ou, numa outra via qualitativa,
transcender: ou seja, construir novos sentidos para a sua existência,
tornando-a melhor e/ou mais significativa do que, até então, era ou tinha sido,
antes de passar por esses estados de náuseas, angústias e caos existencial.
Em
outras palavras, sintetizando, na primeira, o ser não evolui: “quer ser ele
mesmo”; “quer continuar a ser o mesmo”; “quer continuar a ser o eu que sempre
foi”, ou seja, voltar a sua vida “dita normal”, como se nada de grave lhe
tivesse ocorrido, almejando-se, o mais breve possível, esquecer-se de tudo o
que vivenciou.
Na
segunda, o ser perde a lógica da razão, aprisiona-se, patologicamente, no seu
mundo próprio, agora imerso de caos e, ainda que conscientemente, sem forças
para se reerguer, se superar, “abdica da tarefa de viver”; “abdica da resolução
dos seus problemas existenciais mais profundos” e, à revelia de si, fora da sua
consciência e/ou da sua capacidade de superação, “opta pelo abandono de si
mesmo”.
Na
terceira, todavia, o ser desenvolve a capacidade de transcender, isto é, ele
passa a criar e/ou dar um sentido Macro para a sua própria existência, para a
realidade em que vive, transformando-a ao se transformar, renovando-se e
renovando-a pela renovação do seu entendimento sobre o que vale e o que não
vale a pena ser vivido, elegendo, assim, para si, de forma intencional/deliberada,
somente valores que, agora, possam ser, para si, realmente dignos da sua
existência.
Conceituando: a
esse coletivo de capacidades, competências e/ou habilidades (sejam de que
naturezas ou áreas do conhecimento forem) que fazem com que os seres, por meio
deles, consigam superar e/ou suportarem as suas náuseas, angústias e/ou caos
existenciais sem, todavia, terem os seus “Eus” destruídos e/ou dissolvidos na
massa humana, e que poucos homens conseguem desenvolver a favor de si, tornando-se
capazes também, a partir daí, de darem um real sentido próprio às suas
existências, construindo suas identidades, chamar-se-á, aqui, frise-se, de: “Inteligência Transcendental”.
Na
unidade I, proporemo-nos a discorrer sobre o que é a Inteligência
Transcendental, seguida das devidas fundamentações epistemológicas, pautadas
estas sob a forma de amálgamas filosóficos, ou seja, partindo-se do diálogo
entre os axiomas de pensadores como os dos filósofos Existencialistas Martin Heidegger,
Jean Paul Sartre, Gabriel Marcel, o psicólogo Carl Rogers e, também, sob o
olhar do filósofo independente Friedrich Nietzsche.
Na
unidade II, seguindo uma metodologia pragmática, não no sentido técnico, mas no
sentido da possibilidade de instrumentalização, apresentar-se-ão conteúdos
teórico-práticos, a fim de que a Inteligência Transcendental possa também ser -
ainda que não de forma utilitarista - utilizada como mais um mecanismo não
somente de defesa, mas também de luta e resistência, no que se refere à
preservação da identidade do próprio ser pensante, quando em estado dialógico
(sócio-interativo), durante os seus processos de encontro/confronto com outros
seres, durante a sua inserção na vida social, e, também, com o próprio mundo
hostil que se lhe apresenta.
Isto
é, apresentaremos conteúdos que permitirão aos seres, nesses encontros/confrontos,
interagirem sem, entretanto, deixarem de ser, enquanto seres sociais, quem eles
de fato são, não tendo, assim, os seus “Eus” dissolvidos na massa humana; não se
transformando nos “mesmos” ao serem confrontados, mas, muito pelo contrário, afirmando-se
como os seres que são, enquanto seres particulares e, ao mesmo tempo, também enquanto
cidadãos globais ou do mundo.
Esperamos,
assim, que esse livro possa ser útil a todos àqueles que, no caminho da busca
pelas suas superações, dos seus desenvolvimentos cognitivos, etc., no sentido
macro da existência humana, possam também desenvolver, em si, um espírito
cosmopolita, ou seja, sintetizando:
1-
Serem capazes de serem eles mesmos, mas não os mesmos sempre;
2-
Serem capazes de aprenderem com os outros, mas, sem nesse mesmo processo, quererem
se tornar cópias de ninguém.
Numa
outra via, esperamos também que essa obra possa ser útil à formação de uma
geração mais humana e, por isso mesmo, mais capacitada para poder compreender e
superar as náuseas e angústias existenciais, sintetizadas e/ou traduzidas a
partir da compreensão e/ou da consciência de que, ao nascer, se começa a
morrer, ou seja, de que se vive – como diria Martin Heidegger – numa espécie de
“marcha para a morte”.
O
autor