segunda-feira, 29 de maio de 2017

PSICANÁLISE DA MULHER PÓS-MODERNA - Crônicas, contos, ensaios & poemas


É fato que não somente os homens ditos tradicionais, mas também a sociedade patriarcal como um todo, incluindo-se aí muitas mulheres de cultura judaico-cristã, têm demonstrado certo desconforto, ojeriza, náusea e, na mesma via, criado resistências aos novos valores defendidos, vividos e compartilhados pelas mulheres ditas pós-modernas ou feministas. Alguns e algumas, por exemplo, as tem chamado de loucas, psicóticas, neuróticas, pervertidas e ateias; outros de vadias, libertinas, promíscuas, poligâmicas, etc. A pergunta é: As mulheres ditas pós-modernas e/ou feministas têm buscado romper com os valores da chamada sociedade patriarcal porque são libertinas, estão ficando loucas ou sendo possuídas por ideologias diabólicas e ateístas como muitos indivíduos de cultura judaico-cristã ou tradicional têm ainda hoje dito e/ou pregado? 
II 
A temática, como se pode perceber, é complexa. Todavia, pode-se com propriedade afirmar que o novo modo de vida (e valores) das mulheres ditas pós-modernas ou feministas não se trata (nem de longe) de um problema psicopatológico, e muito menos espiritual, etc., mas sim de natureza ético-comportamental, porque substanciado na busca por uma mudança de paradigma sociopolítico. Ou seja, substanciado na busca por uma maneira mais livre, igualitária ou considerada mais justa de existir, já que o homo sapiens, segundo pensam as mesmas, diferentemente de todos os outros seres, não está preso, como também preconizaram Hannah Arendt, Sartre e tantos outros pensadores contemporâneos, em uma natureza ou forma pré-determinista de ser ou viver, mas sim em uma condição humana. Em outras palavras, hoje, alvorecer do séc. XXI, tempo dito global, de novos paradigmas, de obsolescência programada, de constante reflexibilização da economia, e consequentemente de rupturas com a cultura catequizadora ou dita civilizadora ocidental, etc., é preciso reconhecer que tem coexistido e que ainda por muito tempo continuará a coexistir, na maioria das vezes de forma conflituosa, dois diferentes tipos de mulheres: as ditas tradicionais; e as ditas pós-modernas ou feministas. 
III 
Quais são, pergunta-se, além daquelas que já tem circundado no senso comum, as principais diferenças existentes entre elas? Pode-se dizer que são muitas. Mas que, resumidamente: 1- A mulher tradicional, como muitos sabem, é aquela, criada à imagem e semelhança da mãe, que, além de quase assexuada e sem desejo próprio, é vista e/ou coloca-se como santa, imaculada. Isto é, como aquela que, ao “padecer no paraíso”, não goza à vida (em todos os sentidos) porque sobrevive para realizar os prazeres ou desejos dos outros, incluindo-se aí os do dito marido e dos filhos, etc., uma vez que o seu destino era /ou é visto como sendo o de casar e procriar. 2- A mulher pós-moderna, ao contrário da tradicional, é a dita anti “status quo”, é a dita “anti santa”, é a mulher que, entre outras coisas, contrariando em muitos aspectos os valores da sociedade patriarcal, busca também viver e sentir prazer. Ela pode até ser mãe e dona de casa se quiser, mas isso está longe de ser uma obrigação ou imposição cultural. Ela é aquela que assume-se como dona do seu corpo e do seu tempo. Ela é aquela que faz ginástica para melhorar a saúde e se sentir mais bonita. Ela é aquela que está disposta também a fazer plástica se julgar necessário. Ela é aquela que busca ocupar, além do lar, outros espaços, principalmente os ditos profissionais, por meio da dedicação aos estudos, etc. Ela é aquela que, sob a filosofia do amor livre, a fim de não engravidar e/ou controlar a gravidez, faz uso da pílula anticoncepcional, da masturbação e de muitas outras práticas ditas não convencionais. Todavia, por mais paradoxal que possa parecer, ela é também aquela que ainda busca e/ou sonha encontrar a sua alma gêmea. No campo das conquistas, por exemplo, ela não espera mais ser escolhida: ela é capaz de tomar a iniciativa em relação à busca do par afetivo e/ou sexual desejado. 
IV 
O livro, um amálgama de crônicas, contos, poemas e ensaios, epistemologicamente fundamentado, aborda a temática da mulher dita pós-moderna ou feminista, mas sob a égide de diversos olhares. Ou seja: 1- Questiona os valores da sociedade patriarcal, assim como também às ideias tradicionais de loucura contidas nas obras de Freud e Lacan que muitas vezes têm sido utilizadas para classificá-las, confrontando as mesmas com a psicanálise existencial ou teoria filosófica existencial-humanista. E, ao mesmo tempo: 2- Defende (de forma epistemologicamente fundamentada) a ideia de que, por estarmos, enquanto espécie, imersos numa condição humana (muito além da ideia de natureza humana), é preciso que se respeite e dialogue com novas formas de existência que diminuam e/ou buscam dinamitar injustiças, violências ou desigualdades (especialmente em relação às mulheres). 
Espera-se que essa obra possa ser útil à formação de uma geração de homens e mulheres mais iguais, mais livres e felizes, porque também mais conscientes da necessidade de cultivarem o respeito e a tolerância em relação às suas diferentes formas de ser e/ou existir. 

O autor

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