I
Quando se fala do homem em termos da formação estrutural da sua personalidade clínica ou psicopatológica (psicose,
neurose e perversão), dados os relevantes estudos da antropologia, em especial
a filosófica, descobre-se que:
1-
Qualquer
cultura, em síntese, é apenas uma das muitas ou diferentes lentes através da
qual determinado indivíduo vê e se relaciona com mundo;
2-
As
diferentes culturas são apenas diferentes opiniões ou visões de mundo,
corporificadas em modos diferentes de ser, de ver, de sentir, de dizer, de
pensar e de existir;
3-
As
diferentes culturas trazem em si as suas mais radicais, absurdas ou ditas inconcebíveis
ideias de verdade ou normalidade quando comparadas e/ou confrontadas umas às
outras.
II
A tentativa de uma globalização cultural, ou padronização de normas,
valores e costumes, aos moldes da econômica, fracassou ou não tem tido o mesmo
êxito. Ou seja, vemos um mundo hoje (no que se refere ao tratamento desumano
dado aqueles que, fugindo de guerras civis etc. buscam auxílios em territórios
estrangeiros) de regresso a nacionalismos e a formas xenófobas de existir e
lidar com os diferentes e/ou as diferenças.
Nesse sentido, frise-se: a questão
entre “psicopatologia versus normalidade” hoje não é e/ou não tem sido apenas
de grau, como pensaram Freud e Lacan, mas também cultural, ética e/ou de
valores.
Ou seja, indivíduos pertencentes a uma determinada cultura ou grupo,
dado o caráter etnocêntrico e xenófobo das culturas, podem considerar loucos ou
psicopatológicos os de outros se comparados a si.
Pense-se, por exemplo, no caso das brigas entre torcidas; nas guerras
fundamentadas em diferentes concepções político-econômicas, morais ou
religiosas; nos diferentes tipos de apartheids; nas diferentes formas de
xenofobia; nos diferentes modos de desrespeito às diferenças; nas diferentes
formas de se perceber ou encarar a vida de indivíduos que vivem em nichos
culturais e socioeconômicos diferentes; nas formas machistas de muitos homens no
mundo tratarem as mulheres; nas diferentes formas, às vezes deturpadas, de
algumas mulheres viverem ou praticarem o que chamam de feminismo, etc.
Hoje, alvorecer do século XXI, pode-se dizer que o que (na maioria das
vezes) tem acarretado desestrutura nas personalidades ou psicopatologias, muito
além dos fatores ditos genéticos ou orgânicos, são aqueles oriundos:
1-
De choques
culturais;
2-
De extremas
desigualdades socioeconômicas;
3-
De competições
e/ou comparações hierarquizadas entre indivíduos diferentes;
4-
De
ideologias que pregam a meritocracia e o individualismo;
5-
De
xenofobias ou de desrespeitos às diferenças e/ou aos diferentes;
6-
De ideias
radicais ou ortodoxas que migram para a psique dos indivíduos como se fossem
deles, possuindo-os, dando-os todavia a ilusão de serem os possuidores delas
e/ou de estarem hiperconscientes, etc.
III
Nesse trabalho, sendo assim, falar-se-á sobre as diferentes estruturas clínicas ou psicopatológicas da personalidade (psicose,
neurose e perversão), fundamentadas estas nas ideias de Freud[1] e
Jaques Lacan[2].
Na mesma via, sob a égide de axiomas da fenomenologia e das filosofias
antropológica e existencial-humanista, esboçar-se-ão visões críticas às ideias
tecnicistas e/ou organicistas (homem-máquina) há tempos pré-concebidas e/ou
difundidas como parâmetro de normalidade.
O autor
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