segunda-feira, 29 de maio de 2017

FILOSOFIA DA LOUCURA - PSICOSE, NEUROSE E PERVERSÃO – Visão crítica a partir das filosofias antropológica e existencial-humanista

I
Quando se fala do homem em termos da formação estrutural da sua personalidade clínica ou psicopatológica (psicose, neurose e perversão), dados os relevantes estudos da antropologia, em especial a filosófica, descobre-se que:
1-   Qualquer cultura, em síntese, é apenas uma das muitas ou diferentes lentes através da qual determinado indivíduo vê e se relaciona com mundo;
2-   As diferentes culturas são apenas diferentes opiniões ou visões de mundo, corporificadas em modos diferentes de ser, de ver, de sentir, de dizer, de pensar e de existir;
3-   As diferentes culturas trazem em si as suas mais radicais, absurdas ou ditas inconcebíveis ideias de verdade ou normalidade quando comparadas e/ou confrontadas umas às outras.
II
A tentativa de uma globalização cultural, ou padronização de normas, valores e costumes, aos moldes da econômica, fracassou ou não tem tido o mesmo êxito. Ou seja, vemos um mundo hoje (no que se refere ao tratamento desumano dado aqueles que, fugindo de guerras civis etc. buscam auxílios em territórios estrangeiros) de regresso a nacionalismos e a formas xenófobas de existir e lidar com os diferentes e/ou as diferenças.
Nesse sentido, frise-se: a questão entre “psicopatologia versus normalidade” hoje não é e/ou não tem sido apenas de grau, como pensaram Freud e Lacan, mas também cultural, ética e/ou de valores.
Ou seja, indivíduos pertencentes a uma determinada cultura ou grupo, dado o caráter etnocêntrico e xenófobo das culturas, podem considerar loucos ou psicopatológicos os de outros se comparados a si.
Pense-se, por exemplo, no caso das brigas entre torcidas; nas guerras fundamentadas em diferentes concepções político-econômicas, morais ou religiosas; nos diferentes tipos de apartheids; nas diferentes formas de xenofobia; nos diferentes modos de desrespeito às diferenças; nas diferentes formas de se perceber ou encarar a vida de indivíduos que vivem em nichos culturais e socioeconômicos diferentes; nas formas machistas de muitos homens no mundo tratarem as mulheres; nas diferentes formas, às vezes deturpadas, de algumas mulheres viverem ou praticarem o que chamam de feminismo, etc.
Hoje, alvorecer do século XXI, pode-se dizer que o que (na maioria das vezes) tem acarretado desestrutura nas personalidades ou psicopatologias, muito além dos fatores ditos genéticos ou orgânicos, são aqueles oriundos:
1-   De choques culturais;
2-   De extremas desigualdades socioeconômicas;
3-   De competições e/ou comparações hierarquizadas entre indivíduos diferentes;
4-   De ideologias que pregam a meritocracia e o individualismo;
5-   De xenofobias ou de desrespeitos às diferenças e/ou aos diferentes;
6-   De ideias radicais ou ortodoxas que migram para a psique dos indivíduos como se fossem deles, possuindo-os, dando-os todavia a ilusão de serem os possuidores delas e/ou de estarem hiperconscientes, etc.
III
Nesse trabalho, sendo assim, falar-se-á sobre as diferentes estruturas clínicas ou psicopatológicas da personalidade (psicose, neurose e perversão), fundamentadas estas nas ideias de Freud[1] e Jaques Lacan[2]. Na mesma via, sob a égide de axiomas da fenomenologia e das filosofias antropológica e existencial-humanista, esboçar-se-ão visões críticas às ideias tecnicistas e/ou organicistas (homem-máquina) há tempos pré-concebidas e/ou difundidas como parâmetro de normalidade.
O autor



[1] Idem à nota 2.
[2] NASIO, J.D. Introdução às obras de Freud, Ferenczi, Groddeck, Klein, Winnicott, Dolto, Lacan. Rio de Janeiro: Jorger Zahar Ed., 1995.

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