I
Por que
Hegel para professores, o chamado filósofo do saber absoluto? Respondo-vos:
A filosofia de Hegel (1770-1831)
a partir do séc.XX experimentou e, ainda hoje – alvorecer do séc. XXI –, tem
experimentado um grande renascimento, e tal fato deveu-se e deve-se, em grande parte,
a quatro importantes motivos:
1-
Porque Hegel
foi redescoberto e reavaliado como progenitor filosófico do marxismo (e não
somente por marxistas de orientação filosófica);
2-
Porque a
perspectiva histórica (de busca pelo conhecimento) que Hegel colocou em tudo, em
sentido geral, além de Karl Marx, influenciou também:
A-
A filosofia
de Foucault (1926-1984), com o seu chamado Método
Arqueológico;
B-
A filosofia de
Nietzsche (1844-1900), com a sua “Genealogia
da moral” e com a chamada “teoria das três transformações do espírito” (o
camelo, o leão e a criança);
C-
As filosofias
de Sartre e Heidegger, com seus diferentes existencialismos, e também as de muitos
outros;
3-
Porque, à
época, e mais ainda hoje, tem sido crescente o reconhecimento da importância
dos seus fundamentos epistemológicos (fenomenológico, sob as bases do seu
idealismo dialético) de busca pelo conhecimento.
4-
Porque importantes
filósofos (Georg Lukács, Herbert Marcuse, Theodor Adorno, Ernst Bloch,
Alexandre Kojève e Gotthard Günther) foram e, outros, ainda hoje, têm sido
responsáveis diretos e indiretos pelo renascimento de Hegel, colocando em
evidência os fundamentos epistemológicos da sua filosofia ou Fenomenologia do
Espírito.
II
Entretanto,
na mesma via, nenhum filósofo foi e/ou tem sido tão mal traduzido ou
interpretado quanto Hegel. Sua filosofia foi em muitos casos deturpada de
maneira trágica e, até hoje, devido a esse motivo, tem sido incompreendida ou
mal compreendida por muitos, na sua maioria professores. Ou seja, muitos que
falaram sobre Hegel não sabiam o que falavam ou, sabendo o que falavam, não
souberam corretamente dele falar. Certamente isso se deve ao fato de, por ter
sido criticado e pejorativamente chamado de idealista por filósofos como Feuerbach,
Karl Marx (1818-1883), Friedrich Engels e outros, ter sido também, na mesma
via, colocado historicamente na condição de pensador conservador, inatista e/ou
pré-determinista como Platão, Descartes e tantos outros, ou seja, colocado na
condição:
1-
De preservador das injustiças sociais ou do
status quo;
2-
De antirrevolucionário.
III
O
que se pode dizer, entretanto, e que se verá ao longo deste trabalho é que o
idealismo dialético de Hegel, embora o mesmo conceba a natureza como sendo a
manifestação da ideia pura, em muito se difere dos idealismos de
pensadores clássicos como Platão e modernos como Descartes, uma vez que, para
ele, Hegel, as ideias puras, que dão origem à natureza, não são imutáveis, pois
o Ser é concebido por ele como Devir (vir a ser) e, a verdade, dentro desse
contexto, é compreendida como algo histórico, ou seja, como aquilo que se
manifesta dialeticamente no tempo. Isto é, Hegel, sem sombra de dúvidas,
epistemologicamente falando, deu saltos qualitativos em relação a todos os outros
filósofos, e não somente aqueles considerados idealistas.
IV
Mesmo Karl Marx (e Engels), como se sabe,
crítico radical de Hegel, ao desenvolver a sua dita filosofia materialista
dialética, a sua dita “concepção materialista dialética da história”, se não o
plagiou, foi muito pouco original em relação a ele, uma vez que somente
inverteu a concepção filosófica do mesmo, ao, por exemplo, defender a ideia de
que o processo dialético começa a partir da matéria (natureza) e não da ideia
pura, ou seja, desenvolveu praticamente a mesma epistemologia de Hegel e, ao
final, apenas sistematizou-a de forma invertida. Isto é, penso que Karl Marx
leu tanto Hegel que usou invertidamente o idealismo dialético de Hegel em bases
materialistas e econômicas.
V
Não
se terá, aqui, todavia, o objetivo de confrontar ou comparar as filosofias de
Marx e Hegel, uma vez que, pensa-se que, as ideias do primeiro já se encontram
por demais difundidas e conhecidas não somente no meio acadêmico, mas também no
universo dos mais diferentes grupos ditos socialistas ou anticapitalistas de
todo o mundo.
Pretende-se,
aqui, na unidade I, apenas dialogar e/ou estudar, da maneira mais aprofundada
e, ao mesmo tempo, didática possível, as ideias desse grande filósofo que foi
Hegel, ou seja, buscar melhor compreender a essência da sua filosofia, assim
como também as suas importantes contribuições à metafísica, em sentido geral, e
à epistemologia, sob as bases da sua fenomenologia do espírito, em
sentido específico.
Na
unidade II, traremos à tona uma minuciosa e cuidadosa relação dos principais
axiomas de Hegel, em consonância com as temáticas desenvolvidas na unidade I,
visando-se um aprofundamento do estudo. A partir da unidade III, apresentaremos
outros ensaios, discutindo-se problemáticas filosóficas diversas.
Esperamos
que, esse livro, de alguma forma, possa contribuir à formação de uma sociedade
mais livre, porque mais autônoma, intelectualmente falando e, na mesma via,
mais equitativa, democrática, ética e justa, porque também politicamente mais participativa.
O autor
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